Porta fechando.
Ofegante pela corrida, parei em frente à porta tentando me recuperar. Fui a última a entrar, tendo minha mochila quase presa pela porta apressada (ou devia eu dizer motorista?). "Quase perdi. ufa!".
Havia um homem naquele ônibus, alto, tinha cabelos louros que se estendiam, lisos, até a altura do ombro e olhos cor de piscina. Pude ver que seus dentes eram retos e super-brancos. Suas roupas eram simples: típica calça jeans surrada e camiseta lisa, na cor púrpura. Ele carregava consigo um violão mostarda, daqueles antigos que os "caipiras" tinham (ou ainda têm), dessa forma, me chamando muito a atenção. Ao fechar-se a porta do ônibus, ele se colocou no meio do corredor surpreendendo-me:
- Bom dia, pessoal, meu nome é Ricardo e eu ando pela cidade tocando e cantando MPB, levando a cultura brasileira para as ruas. Vou tocar algumas músicas para vocês.
Foi a primeira vez que eu via aquilo: alguém dentro de um ônibus tocando um violão. Quem nesse mundo tem coragem de se destacar no meio da multidão monótona de caras feias e fechadas, com pressa e mentes estressadas? Aquele cara. Era nítido no seu rosto a alegria do que ele estava fazendo, pois, além de ser seu ganha pão, é a forma que ele encontrou de cativar as pessoas com coisas boas.
Eu não me lembro de todas as músicas que ele tocou e cantou, mas uma em especial me marcou "Rosa Morena" do João Gilberto, encarei a música como a declaração mais linda e simples (nunca ouvi ela na vida), para mim é claro, mesmo eu não sendo Rosa, nem morena. A verdade é que aqueles minutos alegraram o meu dia de uma forma impressionante. Lembraram-me de que como ainda amo o meu país.
Ao fim de sua apresentação, ele pediu uma contribuição voluntária para seu trabalho e percebi que muitas pessoas foram tocadas pelo mesmo sentimento que eu. Lógico que muitas não se alegraram com as músicas, afinal, ninguém consegue agradar todos, não é mesmo?
Queria dar um abraço no rapaz e agradecê-lo por aquele momento. Até porque não sou a pessoa que mais ouve esse tipo de música. MPB é tão linda, mesmo não conhecendo músicas decor, ou mesmo seus nomes. Sei apenas que elas despertam um amor à pátria, ao Brasil. Devo ser suspeita para falar sobre isso.
O ônibus parou e ele saiu apressado em direção à porta. Agradeceu à todos e se desculpou mais de uma vez por ter incomodado alguém. Nesse momento era inevitável olhar o seu sorriso.
"Eu te perdôo. Te perdôo pelas outras pessoas que não gostaram, mas continue o trabalho, por favor!".
Não deu tempo de dar uma salva de palmas ao talentoso rapaz. Ok, ele deve estar acostumado. E ele foi embora. Levou o violão, as músicas, o som, deixou a alegria, e, acho que levou meu coração.
Porta fechando.
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