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Ela e a bicicleta


Já fazia algum tempo que ela não saia de casa. Apenas criava suas histórias dos limites de sua casa para dentro de seu quarto. Claro que a maioria delas eram inventadas por ela. Então resolveu dar uma volta de bicicleta, “lembrar da minha infância”, foi o que pensou.

Quando era mais nova, seu maior passatempo eram os “rolês” de bicicleta pelo bairro com sua amiga. Nada a impedia. Ela adorava correr o mais rápido possível, subia e descia ladeiras com a maior facilidade do mundo.

Mas ela cresceu, não cabia mais naquela bicicleta, por mais que a amasse, seu pai a vendeu, sem dó, sem piedade. Era o certo, até porque aquela bicicleta só estava ocupando espaço.

Anos depois, lá estava ela sobre uma bicicleta maior, de acordo com sua altura, com marchas que ela nem sabia lidar. Ela sabia que estava sem jeito, perdeu a prática e quem sabe poderia levar algum tombo mais uma vez, como nas outras vezes que ela tentou voltar a andar. Ela tinha medo de cair, de não conseguir parar e bater com muito impacto em alguma parede ou ainda acabar debaixo de um carro.

Sempre pensando nisso, ela saiu com a bicicleta, meio desengonçada, mas foi em frente. Na primeira ladeira que apareceu quase se apavorou, então respirou e continuou. Sentiu todo aquele vento proporcionado pela velocidade em que estava e, por um segundo, teve medo. Chegando ao fim da descida, a velocidade foi diminuindo e deu tudo certo.

Seu coração pulava de alegria ao perceber que tinha conseguido vencer o medo, pelo menos naquele instante. Ela ainda sentia medo, ainda estava insegura, mas agora ela sabia que podia superar isso com o tempo.

Na volta, se deparou com aquela subida, então a enfrentou. Foi desgastante subi-la pedalando. Ao terminar, mais uma vitória. Ela entendia que conseguia. E planejava seus próximos passeios.

Na esquina de sua casa, estava tão distraída que nem notou um cachorro correndo atrás dela e assim a derrubou. Não foi nada demais, alguns arranhões nas mãos e joelhos. Isso poderia ser o fim de toda aquela esperança libertadora que tivera segundos atrás. Ela olhou para os ferimentos e em sua expressão era perceptível a dor que estava sentindo, mas quando levantou, era possível ver um sorriso. “Que saudades de cair”, disse enquanto juntava a bicicleta caída e entrou em casa. De volta ao mundo, o seu mundo.

Muitas vezes o cair é necessário, porque ele nos fortalece, desconstrói fantasias e cria experiências sólidas.

Um comentário:

  1. Ual que texto! Na verdadr que história emmmmmmm !

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