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Contos pré-adormecer: Sexta-feira 13

Acordei com aquela chuvinha tranquila de manhãzinha, pensei duas vezes antes de sair de casa, mas com muito esforço levantei da minha cama. Logo, comecei a me arrumar, como toda manhã, e por um segundo levantei os olhos e vi o calendário bem ali na minha frente, o "13" bem marcado para que eu não me esquecesse, o dia tão temido pelas pessoas.
Lembrei o que um colega do Ensino Médio tinha me dito uma vez. "Hoje é o dia do azar, cara, toma cuidado por aí". Deixei um leve sorriso de deboche transparecer. Não havia o que temer, simplesmente um dia qualquer para mim. "Nunca aconteceu nada e nunca vai acontecer" - falei comigo mesmo.

A primeira coisa que me aconteceu ao pisar na rua foi um caminhão passar a toda velocidade por cima de uma poça que estava bem próxima de mim, fiquei ensopado. "Que coincidência!". Voltei para casa, me enxuguei e troquei de roupa. O sol começou a aparecer e a rua já estava secando, agradeci aos céus por isso. Depois, retirei o que disse, porque não confio nessas entidades divinas. Eu só estava atrasado para o trabalho. No caminho fui torcendo para que não levasse uma bronca do meu chefe. "Aquele gordo" - pensei.

Cheguei naquele lugar com a cara mais normal possível, fingindo nada ter acontecido. Vi todas aquelas pessoas que eu sempre julguei serem tão toscas e tolas quanto uma mosca. Eu não tinha amigos ali, e nem queria, pois sei o que cada um pensa sobre mim, por isso prefiro evitar as pessoas. Eu podia ouvir os gritos do meu chefe em segundo plano.
- Onde está aquele idiota do suplente? 
Só percebi que as pessoas apontando para mim, quando cheguei perto ele começou a gritar comigo.
- Você não serve nem pra chegar no horário, seu idiota. 
- Senhor, eu fui..

Ele nem deixou eu terminar, me mandou buscar o café, que teríamos uma "conversinha". Fui buscar aquele café só de raiva, pensei em vários planos para me vingar de toda aquela humilhação. Desisti, o melhor seria não arriscar. 
Fui até a sala e entreguei a xícara a ele. Não pude deixar de perceber o pé de coelho, a ferradura pendurada na parede, um trevo de quatro folhas preso em seu paletó e todas esses amuletos inúteis. Esperei alguma palavra, e ele apenas levantou seus olhos na minha direção.
- Saia da minha frente, pegue suas coisas e vá embora. Está demitido!
- Mas, senhor! Não acho justo...
- Eu que não acho justo pagar um salário para um empregado descompromissado. Sem mais!

Saí daquela sala extremamente zangado, eu não deixaria de me vingar, não mesmo.
Voltei para minha casa, tentei não pensar no ocorrido e nem lembrar que dia era. Tive uma ideia. Peguei uma folha de papel rabisquei algumas palavras ali, sorri e saí correndo. 
Já era 23h54 quando cheguei na casa do ex-chefe, apertei a campainha e deixei o papel em frente da porta. Ele abriu a porta, viu o bilhete e leu em voz alta:

"NÃO TENHA MEDO DAS BRUXAS E DOS MORTOS,
TENHA MEDO DAS PESSOAS.
ELAS SIM PODEM TE FAZER ALGUM MAL."

00H00 - Plantão

O empresário José da Silva acaba de ser assassinado com 13 facadas no peito e costas, não temos nenhum suspeito para o caso. A perícia está fazendo todas as investigações necessárias.

Boa noite, meus amiguinhos.

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